quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O Papel dos Portugueses na Civilização

A Mensagem, de Fernando Pessoa, é uma obra que foi escrita num período de crise e é, para o poeta, o primeiro passo, na construção de um outro futuro. Um futuro em que se considera possível, se se estiver na consciência plena das limitações dos homens, assumir a derrota ultramarina e corroer a pobreza instalada nas mentes das pessoas que se traduz em negativismo e mediocridade, males do seu tempo.

A Mensagem surge então como a expressão poética dos mitos, já que não se trata de uma narrativa sobre os grandes feitos dos portugueses no passado, como em Os Lusíadas, mas sim, de um cantar de um Império de teor espiritual. Assim não são os factos históricos propriamente ditos sobre os nossos reis que mais importam; são sim as suas atitudes e o que eles representam. Por isso mais do que heróis são como símbolos de diferentes significados.

A Mensagem tem então como tema a nação portuguesa, a essência de Portugal e a sua missão a cumprir. Encontra-se dividida em 3 partes distintas: BRASÃO, MAR PORTUGUÊS e O ENCOBERTO.

A primeira parte - BRASÃO - corresponde ao nascimento, com referência aos mitos e figuras históricas até D. Sebastião, identificadas nos elementos do brasão português e que serviram de alicerces e fontes de inspiração.
No poema “Os Castelos” começa por localizar Portugal na Europa e em relação ao Mundo, procurando evidenciar a sua grandiosidade e o valor simbólico do seu papel na civilização ocidental quando afirma "O rosto com que fita é Portugal!".
Depois apresenta várias figuras deste povo heróico e guerreiro, construtor do império marítimo; faz a homenagem aos que construíram o País (Ulisses, Viriato, Conde D. Henrique e seu filho Afonso Henriques, D. Dinis, D. João I, D. Sebastião, D. Nuno Álvares Pereira, D. Henrique, D. João II e Afonso de Albuquerque); e refere as mulheres portuguesas, D. Teresa e D. Filipa de Lencastre, mães do fundador e da "ínclita geração", como "antigo seio vigilante" ou "humano ventre do Império".

Na segunda parte – MAR PORTUGUÊS - surge a vontade de Deus em glorificar os feitos dos portugueses. Inicia-se com o poema Infante, “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.”
Nos outros poemas evoca os Descobrimentos com as personalidades Diogo Cão, Bartolomeu Dias, Fernão de Magalhães e Vasco da Gama e acontecimentos que exigiram uma luta contra o desconhecido e os elementos naturais, com as glórias e as tormentas, considerando que valeu a pena. No antepenúltimo poema evoca a partida de D. Sebastião na Última Nau e o último poema é a Prece, onde renova o sonho.

Na terceira parte - O ENCOBERTO - aparece a crença no milagre que livre do Presente de sofrimento e de mágoa, pois "falta cumprir-se Portugal". Encontra-se tripartida em Os símbolos, Os avisos e Os tempos.
Manifesta a esperança e o "sonho português" no Quinto Império, pois o atual Império encontra-se moribundo, e na vinda daquele Salvador/Encoberto que deverá chegar para edificar o Quinto Império, um império moral e civilizacional.


Na perspectiva de Fernando Pessoa, os Portugueses são o povo eleito de Deus que Ele nunca abandonará pois é neles que conseguirá pôr a sua vontade e fazer nascer a obra que redimirá toda a miséria que a Humanidade tem sofrido. Os corações dos homens e mulheres que estejam dispostos a sacrificar-se pela Pátria, inspirados pelo Sebastianismo, o Mito do Encoberto e o Quinto Império, transcender-se-ão, salvando a humanidade.

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