A Mensagem, de Fernando Pessoa, é uma obra que foi escrita
num período de crise e é, para o poeta, o primeiro passo, na construção de um
outro futuro. Um futuro em que se considera possível, se se estiver na
consciência plena das limitações dos homens, assumir a derrota ultramarina e corroer
a pobreza instalada nas mentes das pessoas que se traduz em negativismo e
mediocridade, males do seu tempo.
A Mensagem surge então como a expressão poética dos mitos,
já que não se trata de uma narrativa sobre os grandes feitos dos portugueses no
passado, como em Os Lusíadas, mas sim, de um cantar de um Império de teor
espiritual. Assim não são os factos históricos propriamente ditos sobre os
nossos reis que mais importam; são sim as suas atitudes e o que eles
representam. Por isso mais do que heróis são como símbolos de diferentes
significados.
A Mensagem tem então como tema a nação portuguesa, a
essência de Portugal e a sua missão a cumprir. Encontra-se dividida em 3 partes
distintas: BRASÃO, MAR PORTUGUÊS e O ENCOBERTO.
A primeira parte - BRASÃO - corresponde ao nascimento, com
referência aos mitos e figuras históricas até D. Sebastião, identificadas nos
elementos do brasão português e que serviram de alicerces e fontes de
inspiração.
No poema “Os Castelos” começa por localizar Portugal na
Europa e em relação ao Mundo, procurando evidenciar a sua grandiosidade e o
valor simbólico do seu papel na civilização ocidental quando afirma "O rosto
com que fita é Portugal!".
Depois apresenta várias figuras deste povo heróico e
guerreiro, construtor do império marítimo; faz a homenagem aos que construíram o País (Ulisses, Viriato, Conde D. Henrique e seu filho Afonso
Henriques, D. Dinis, D. João I, D. Sebastião, D. Nuno Álvares Pereira, D.
Henrique, D. João II e Afonso de Albuquerque); e refere as mulheres
portuguesas, D. Teresa e D. Filipa de Lencastre, mães do fundador e da
"ínclita geração", como "antigo seio vigilante" ou
"humano ventre do Império".
Na segunda parte – MAR PORTUGUÊS - surge a vontade de Deus em glorificar os feitos dos portugueses. Inicia-se com o poema Infante, “Deus
quer, o homem sonha, a obra nasce.”
Nos outros poemas evoca os Descobrimentos com as
personalidades Diogo Cão, Bartolomeu Dias, Fernão de Magalhães e Vasco da Gama
e acontecimentos que exigiram uma luta contra o desconhecido e os elementos
naturais, com as glórias e as tormentas, considerando que valeu a pena. No
antepenúltimo poema evoca a partida de D. Sebastião na Última Nau e o último
poema é a Prece, onde renova o sonho.
Na terceira parte - O ENCOBERTO - aparece a crença no milagre
que livre do Presente de sofrimento e de mágoa, pois "falta cumprir-se
Portugal". Encontra-se tripartida em Os símbolos, Os avisos e Os tempos.
Manifesta a esperança e o "sonho português" no
Quinto Império, pois o atual Império encontra-se moribundo, e na vinda daquele
Salvador/Encoberto que deverá chegar para edificar o Quinto Império, um império
moral e civilizacional.
Na perspectiva de Fernando Pessoa, os Portugueses são o povo
eleito de Deus que Ele nunca abandonará pois é neles que conseguirá pôr a sua
vontade e fazer nascer a obra que redimirá toda a miséria que a Humanidade tem
sofrido. Os corações dos homens e mulheres que estejam dispostos a
sacrificar-se pela Pátria, inspirados pelo Sebastianismo, o Mito do Encoberto e
o Quinto Império, transcender-se-ão, salvando a humanidade.
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