quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Escultura

«À natureza inorgânica do espírito que encontra a sua expressão artística na arquitectura, opõe-se o princípio espiritual que inspira a obra de arte e lhe dá o seu verdadeiro conteúdo. Trata-se aí de um movimento de que conhecemos já a necessidade dialéctica; está implicado no conceito do espírito que se compõe de um ser para si subjectivo e uma existência onjectiva. (...)... também na escultura, o espírito não se exprime ainda  de uma maneira puramente imaterial, ideal; tem necessidade, para se realizar, de uma aparência homogénea, de um invólucro corporal e a arte que é chamada a fornecer-lhe esse invólucro, por outras palavras, a escultura,  apresentará a individualidade espiritual sob a forma de uma manifestação  material imediata e propriamente dita.»

« (...) Pelo que se refere às relações entre a escultura e as outras artes, entre estas últimas, só a poesia e a pintura se podem comparar a ela. Quer se trate de uma estátua isolada ou de um grupo de estátuas, temos diante dos olhos a forma espiritual na sua plena e íntegra corporeidade, o homem tal como é. A escultura parece ser assim a representação do espiritual, a mais fiel e a mais conforme à natureza, ao passo que a poesia e a pintura aparecem como não naturais; porquanto a pintura se serve, em vez da totalidade sensível do espaço que a forma humana e os outros objectos da natureza ocupam realmente, da simples superfície; enquanto a linguagem parece exprimir ainda menos o corporal, sendo, parece, somente capaz de comunicar pelo som as representações relativas a este último.»

«(...) Sob este aspecto, a escultura pode e deve ser considerada como inferior á poesia. Sem dúvida, não se encontra na poesia essa nitidez plástica com a qual a escultura nos apresenta o corporal, mas a poesia pode, também, descrever a configuração e as características exteriores do homem, os seus cabelos, as suas vestes e atitudes, etc., e se esta descrição não tem a exactidão da imagem plástica, é sempre possível completá-la com um esforço de imaginação de que não tem aliás necessidade, para uma simples representação, de uma exactidão rigorosa, mas visa sobretudo a apresentar-nos o homem activo, com os seus móbiles, com as diversas circunstâncias e complicações da sua existência, com todos os seus sentimentos, os seus discursos, com todas as revelações da sua interioridade e todas as suas negociações exteriores. Eis o que a escultura é incapaz de fazer, ou o que não pode fazer senão de uma maneira imperfeita, porque não está em condições de exprimir a interioridade subjectiva, a vida dos sentimentos sob o seu aspecto particular, ou uma série  d exteriorizações, como o faz a poesia. Tudo o que ela sabe exprimir é o lado geral da individualidade, na medida em que se exterioriza no corpo, e as poses ou atitudes sem sequência, tais como existem num dado momento, desprovidas de movimento e de acção progressiva.»

G.W.F. Hegel, Estética  

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