Fernando
Pessoa, como temos estudado ao longo das últimas aulas, é mundialmente
conhecido pela sua genialidade que se refletiu nos poemas do ortónimo e pelos
seus heterónimos, nos quais três deles ganharam maior destaque, sendo eles
Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis.
Entre as centenas de poemas escritos por
Fernando Pessoa, uma das obras mais emblemáticas tem como título “Notas Para A Recordação Do Meu Mestre
Caeiro” escrita sob a personalidade de Álvaro de Campos. Este heterónimo é
fruto de um “súbito impulso por escrever” que Pessoa sentia, sendo
caracterizado como sendo um engenheiro naval, licenciado na Escócia. É o
heterónimo mais moderno, é bastante emotivo e faz questão de se destacar pelo
seu conformismo e agressividade em relação à tradição literária do momento.
Álvaro de Campos era o principal discípulo de Alberto Caeiro, por quem tinha
uma enorme admiração, considerando-o o seu Mestre.
Em “Notas Para A Recordação Do Meu Mestre
Caeiro”, o poeta começa por explicar o dia em que conheceu Alberto Caeiro, “em
circunstâncias excepcionais”, salienta ele. Enquanto passeava com o seu primo
pelo Ribatejo, acabou por ir a casa de um amigo do mesmo, que era familiar daquele
que iria ser o seu mestre.
Ao longo da obra, o poeta começa por
caracterizar Alberto Caeiro, dizendo que ele era alto, magro, de cabelo louro e
olhos azuis. Tal como estudámos anteriormente, Caeiro era uma pessoa bastante
objetiva e que expressava tudo de forma bastante clara, natural e simples.
Estas características podem ser comprovadas na descrição que Álvaro de Campos
escreve acerca dele, como quando afirma que a sua voz era “lançada num tom de
quem não procura senão dizer o que está dizendo – nem alta, nem baixa, clara,
libre de intenções, de hesitações e de timidezes”. Através da descrição deste
heterónimo, é notável a enorme admiração que o poeta sentia por ele. Lamenta ainda
o facto de o seu mestre ter partido tão cedo, e relembra que consegue revê-lo
em si, naquilo que ele é, e conserva-o para sempre, na sua memória.
Segundo o
poeta, a maioria dos pagãos - não passam disso, de simples pagãos - mas Alberto
Caeiro era diferente. Ele não era mais do que isso, ele era o paganismo todo,
pelo que Álvaro de Campos defendia. Enquanto que ele era um pagão por revolta e
por temperamento, em Caeiro era impossível definir esse paganismo, pois “havia
consubstanciação”. Era o mestre que dava voz ao paganismo.
Alberto
Caeiro realça a diferença entre nós, portugueses, e os gregos, que possuíam o
conceito e a repugnância do infinito. Neste contexto, Caeiro revelou-lhe uma
“conversa assombrosa”. Entre conversas e mais conversas, o tema do materialismo
surgiu como assunto. O poeta explica ao seu mestre o que queriam dizer com a
expressão “poeta materialista” que o definia, e que ele não sabia o que
significava, explicando-lhe as semelhanças entre a sua doutrina e o
materialismo. Caeiro discordava, apontando que as pessoas materialistas são
“pessoas cegas”, e isto tudo resultou numa discussão entre estas duas
personalidades de universos tão distintos.
Era certo que o eu poético, para além de uma
grande admiração pelo seu mestre, considerava-o como uma pessoa que se podia
definir usando qualquer frase escrita ou dita por ele. Campos vivia na angústia
de não ter estado ao lado do seu mestre no dia em que este morreu por ter estado
em Inglaterra. Lamenta ainda que Ricardo Reis também não estivesse lá, apenas
Fernando Pessoa, o que era completamente indiferente, porque este sentia as
coisas e não tinha reação. Apenas pensar em Caeiro conseguia consola-lo, e
guardá-lo-ia para sempre na sua memória.
Outro passagem que abordamos foi a “Escultura”, escrita por G.W.F. Hegel
que aborda o assunto da Arte. O poeta assume que a essência da escultura é
puramente material, o que nos leva automaticamente a relembrar a materialidade
de Caeiro. Esta apresenta-se de uma maneira homogénea, assim como a poesia
simples e precisa do mestre. “O homem tal como é” esta diretamente relacionado
com a escultura, e a pintura é a única forma de arte que se pode comparar à
poesia. A escultura representa o espiritual e é fiel às formas da natureza, tem
regras e põe a perfeição em primeiro lugar. Por outro lado, a pintura, à
semelhança da poesia, é algo espontâneo e imperfeito.
Em suma, e de
acordo com a opinião do autor, a escultura tem menos importância do que a
poesia, pois esta última tem um carácter menos nítido, menos perfeito. A poesia
tem a capacidade de descrever a “configuração e as características exteriores
ao homem”, que é susceptível a ser completada através da imaginação do leitor.